quarta-feira, maio 02, 2007

RELATÓRIO ENTREGA DE ALIMENTOS

RELATÓRIO ENTREGA DE ALIMENTOS NAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS
DO NORTE DO ESTADO

A escolha de quem iria receber a doação de abril da nossa escolinha, começou quando vi um relato sobre as comunidades quilombolas que viviam no meio das florestas de eucalipto da Aracruz, mostrando as dificuldades em permanecer na terra dos seus antepassados, frente a uma disputa de terras com a essa empresa e frente ao desafio de preservar sua própria cultura, já que essas famílias ocupam pequenos pedaços de terra rodeados por eucaliptos, na maioria das vezes sem poder plantar para produzir o que comer. Ao pesquisar a fundo essa questão, descobri o “Observatório Quilombola” um site destinado a comunidades quilombolas do Brasil. A essa altura já tinha certeza de quem iria receber nossa doação: As comunidades do Norte Sapê em São Matheus. Meu próximo passo foi saber quem procurar, teria que ser alguém envolvido nestas comunidades sem vínculo político para que chegássemos de uma forma acolhedora. Fiz contato com o site e eles me indicaram o nome da Selma Dealdina, mas antes procuraram saber qual era a nossa instituição e quais nossos motivos para uma ação assim, visto que o ES tem vivido alguns episódios envolvendo Índios e Negros x Aracruz, relatei que nosso objetivo era somente ajudar o próximo e paralelamente lançar um olhar sobre essas minorias que realmente estão sofrendo com essa questão, sem entrar no mérito de quem esta certo ou errado, apenas ajudar, porque elas necessitam sim de ajuda.


Entrei em contato com a Selma e ela logo foi me mandando um e-mail dizendo que existem famílias que sobrevivem com menos de R$1,00 por mês, fiquei perplexa e com uma responsabilidade maior de poder arrecadar mais alimentos, junto aos alunos e amigos da natação.Com a ajuda de vocês, que sempre estão dispostos “a fazer o bem sem olhar a quem” conseguimos:




29kg de feijão
78kg de arroz
29litros de óleo
13kg de macarrão
41kg de açúcar
12 kg de farinha
15kg de fubá
8kg de sal
2kg de café
4 litros de leite
Doação de roupas: 11 blusas e 12 calças
Totalizando 30 cestas básicas.



Com esse número definido, liguei para Selma e ela definiu as comunidades que seriam beneficiadas: São Jorge, Morro do Arara e Córrego do Sapato, mas ressaltou que existem muitas outras como estas que necessitam também de ajuda.Dia 01 de maio acordamos cedo e fomos em direção a S. Mateus encontrar com Selma para nos guiar até as comunidades. Ela nos levou em sua casa, fez questão de nos mostrar sua bela família e principalmente sua identidade negra, descendente de quilombolas com toda integridade possível. Seus avós e pais viveram também em comunidades Quilombolas e não haveria outra pessoa melhor para nos apresentar a tais comunidades. Apresentou-nos a sua irmã Domingas Dealdina que nos conduziu brilhantemente até as comunidades, nos dando literalmente uma noção histórica do passado, do presente e do futuro que todos desejam para sua raça. Ela faz parte do CONAQ, Conselho Nacional das Comunidades Negras Rurais e Quilombolas e tenta, apesar das inúmeras limitações, ajudar no que é possível. Para sentir como a questão é difícil na região, segundo Domingas, esse evento que houve em São Matheus com o intuito de fazer o resgate das comunidades quilombolas, não foi amplamente divulgado entre as próprias comunidades quilombolas, foi uma festa sem os principais convidados.









Já na primeira casa sentimos que essa tarefa não seria tão fácil, pois estamos acostumados a nada faltar nas nossas casas, temos tudo que precisamos para viver. É uma realidade diferente da que temos, não falo aqui da estrutura e simplicidade das casas, falo da falta do que comer dentro delas.










Viver da terra é um desejo de todos, mas como plantar num terreno rodeado de eucaliptos? Pedi ajuda a quem se até para estudar as crianças andam mais de 20 minutos até uma condução que os levem a escola? Falando nas lindas crianças, que apesar de toda adversidade sempre nos estendem longos sorrisos, é raro não achar uma casa com menos de 4 crianças dentro dela. Só para que tenham consciência da importância da sua doação: o seu alimento compôs uma cesta com 7 produtos, essa pequena cesta vai alimentar no mínimo 6 pessoas, quisera nosso desejo que suprisse todo o mês, mas isso não será possível.




As fotos de várias casas onde entregamos as cestas vocês poderão ver aqui, mas para que possam sentir o ambiente um pouco mais, vou relatar uma entrega. Era uma das últimas entregas, existiam 2 casas, sempre existe uma perto da outra que é sempre de um filho ou filha, isso é uma peculiaridade dessas comunidades quilombolas. A casa era de um Sr. com mais de 80 anos que tinha ficado cego recentemente, chegamos, nos apresentamos e ele começou a contar a sua condição atual de incapacidade para trabalhar com um enorme penar que comoveu a todos, ao ser perguntado por sua esposa, ele nos informou com muita tristeza que ela tinha saído para pescar no córrego ao lado para que eles pudessem comer alguma coisa no almoço, já que nada havia na sua casa. Antes de chegar nessa casa havíamos passado por um pedaço desse córrego e imaginar uma senhora buscando seu alimento naquele pequeno rio, nos deu uma dor enorme, mas ao mesmo tempo, imaginar que ao voltar ela encontraria uma cesta de alimentos, foi um acalanto ao nosso coração. E não foi só uma casa em que ouvimos:

“Oh meus filhos, isso chegou numa boa hora”.

Despedimos-nos dos novos amigos Quilombolas com a certeza de um novo encontro (marcaremos com certeza uma outra ação para outras comunidades no segundo semestre). Saímos em direção a Vitória e cansados resolvemos almoçar num restaurante da cidade. Frente a tantas pessoas saudáveis, frente a tanta comida servida nos pratos e seus restos, foi impossível parar de pensar no que havíamos presenciado... mesmo com fome o alimento não descia com facilidade. A imagem que me vinha era daquelas panelas escurecidas pela fuligem dos fogões a lenha e quase sempre vazias, empilhadas junto ao fogão. Confortava-me pensando naquela senhora que foi pescar e na sua alegria ao chegar à sua casa e ver a cesta que você, aluno (a) da nossa escolinha doou.

Obrigada pela ajuda mais uma vez.
Joyce I. Santos

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